sábado, 12 de julho de 2008

FAMÍLIA, PEQUENA IGREJA

As características da família descritas nos trechos do Antigo Testamento, sobre as quais se modelavam as nossas famílias patriarcais, eram: a paz, a abundância de bens materiais, a concórdia e a descendência numerosa - sinais da bênção do Senhor; a obediência e o amor eram a lei fundamental; essa obediência não era só sinal e garantia de bênção e prosperidade para os filhos, mas também um modo de honrar a Deus nos pais (I leitura). A este tipo de família o cristianismo trouxe um convite a uma contínua vitória sobre si em vista do Reino: são Paulo pede aos esposos e aos filhos cristãos que vivam a vida familiar como se já vivessem na família do Pai celeste (II leitura). Apresentando-nos a experiência de Cristo que entra no contexto de uma família humana concreta, o evangelho traçaum quadro realista dos reveses e vicissitudes a que está sujeita a vida de uma família.

Jesus perdido e encontrado

Nem tudo é idílio, paz e serenidade na família: ela passa pelos sofrimentos e dificuldades do exílio e da perseguição; pelas crises do trabalho, da separação, da emigração, do afastamento dos pais (evangelho do ano A). Na sagrada Família, como em todas as outras, há alegrias e sofrimentos, desde o nascimento até a infância e a idade adulta; ela amadurece através de acontecimentos alegres e tristes para cada um de seus membros (evangelho do ano B).
O momento em que o caminho dos filhos se separa do de seus pais é um dos mais importantes e decisivos na história da família.
Depois do encontro no templo, Maria e José se calam, não apresentam objeções sobre a opção de Jesus; inconsciente e intuitivamente percebem que é uma escolha que os exclui (ou parece excluí-los) da vida de seu único filho, uma opção semeada de lágrimas e sangue, mas a aceitam, porque essa é a vontade de Deus (evangelho do ano C).

Família Cristã

O quadro da família apresentado pela Sagrada Escritura não corresponde, sob muitos aspectos, à situação da família atual, cujos problemas às vezes parecem ser não só diferentes, mas totalmente opostos.
Na atual revolução social, a célula familiar está particularmente em perigo. Seu direito tradicional, sua moral, sua economia, sua função são freqüentemente postos em discussão.
Devemos convencer-nos de que a família autônoma, ambiente fechado em uma sociedade fechada, pertence a uma época sociológica passada. Só um repensar doutrinal profundo pode ajudar a família a situar-se no mundo de hoje e a construir-se a si mesma em meio às dificuldades que encontra.
Do ponto de vista moral, o divórcio, o espinhoso problema da limitação da natalidade e o aumento do número dos matrimônios fracassados obrigam os cristãos a retomar consciência do caráter sagrado da família cristã. No plano econômico, a crise das habitações, o trabalho da mulher fora de casa, o problema do tempo de lazer abalam a economia familiar e sacrificam essa célula essencial às exigências da sociedade técnica. No plano político, a família é felizmente ajudada pelo Estado em muitos países, mas corre o perigo de ficar a serviço do Estado, sobretudo no que concerne à primeira educação dos filhos.
Esses graves problemas não se podem resolver facilmente; quem ousaria lançar a pedra contra os que vêem sua família desagregar-se no plano moral, quando não é garantido um mínimo de condições econômico-sociais? O primeiro dever do cristão é, pois, lutar a fim de obter para as famílias não abastadas o necessário espaço vital. Além disso, devem os noivos ser preparados para sua tarefa educativa e para sua vida de intimidade e comunhão, a fim de que não degenere, não fracasse, não se desvirtue no divórcio.

Família Aberta

Trabalho não menos necessário, no mundo atual, é o de ensinar aos membros da família cristã a viver em comunidade, aberta para as necessidades do bairro e da paróquia, disposta a colaborar com as outras comunidades mais amplas.
Os filhos já estão implicados em comunidades artificiais de todo gênero (cidade, colégio, profissão, sindicato...), mais sensibilizados aos problemas mundiais, a paz no mundo, o auxílio aos países subdesenvolvidos etc. Os adultos, diante do futuro do nosso mundo inquietante e cheio de riscos, tendem a assumir uma posição de medo e conservadorismo, de defesa das comunidades naturais (família" e pátria), e não sabem responder às exigências dos que vivem no plano das outras comunidades.
O critério supremo de vida da família deve ser procurado no exercício da caridade, que é a verdadeira fonte da unidade familiar. Este exercício só é possível se as fronteiras da família forem as do reino da fraternidade universal. A vida familiar não pode ser vivida na verdade se não for aberta a esses horizontes.

FAMÍLIA, BASE DA SOCIEDADE
John Nascimento

Os filhos de jacob

Na Bíblia, o povo de Israel estava dividido em tribos e clãs; e os clãs eram constituídos pelas "casas ancestrais", ou Famílias. Era assim que as Famílias seguiam como descendentes de famosos antepassados, como, por exemplo a “Casa de Jacob” e “Casa de David”. A Família era também uma unidade no culto:

- Quando acabava a série dos dias de banquete, Jó mandava chamar os seus filhos para os purificar e, levantando-se na manhã seguinte, oferecia um holocausto por intenção de cada um deles: "Talvez os meus filhos tenham pecado e amaldiçoado a Deus no seu coração.” (Jó 1,5).

Os livros da Sagrada Escritura fazem os elogios das belezas e da felicidade da Família:

- Vale mais um bocado de pão seco, com paz, do que uma casa cheia de carne com discórdia. (Pr 17,1).
- Aquele que amaldiçoa o seu pai ou a sua mãe, verá a sua luz apagar-se no meio das trevas.(Pr 20,20).

A Família na sociedade moderna e no pensamento religioso é uma Instituição constituída pelos pais e pelos filhos. Mesmo quando não haja filhos podem existir outros familiares relacionados. Na estrutura social dos homens, tanto no Estado como na Igreja a Família é a primeira entidade porque, através da Família continuam os cuidados e a educação de todos os membros e fica assegurado o seu desenvolvimento e a sua maturidade.

Os leigos que vivem no estado matrimonial têm obrigação, de acordo com o seu estado de vida, de assumir as responsabilidades de educar os seus filhos segundo os ensinamentos da Igreja, e de trabalhar para a edificação do Povo de Deus. As Encíclicas católicas sociais têm repetidamente apelado para o respeito e para os direitos da Família.

As Famílias têm os seus direitos dentro da sociedade, e o Estado não pode impor ou consentir no que quer que seja que perturbe a sua unidade e a sua vida para servir interesses puramente sociais ou políticos, e têm o direito de viver a sua vida em paz. As Famílias têm direito a leis e instituições sociais que promovam e protejam a sua unidade e integridade. A base destes direitos é o fato de que as Famílias são a primeira "escola" dos filhos e as Famílias têm a obrigação de gerar, promover e educar os filhos. Se não estiverem protegidas, de modo que não possam cumprir as suas responsabilidades, os filhos ficam privados daquilo que têm necessidade e a que têm direito, com o terrível prejuízo da sociedade.

O Concílio Vaticano II ensina:

- Foi sempre dever dos esposos e hoje é a maior incumbência do seu apostolado: manifestar e demonstrar, pela sua vida, a indissolubilidade e a santidade do vínculo matrimonial; afirmar vigorosamente o direito e o dever próprio dos pais e tutores de educar cristãmente os filhos; defender a dignidade e legítima autonomia da Família. (AA 11).