sábado, 12 de julho de 2008

Oração - O Respiro da Alma


O Que é a oração

A alimentação e o descanso são indispensáveis para sustentar sua vida física. A sabedoria, a arte e a cultura, de um modo geral, enriquecem as qualidades da alma da pessoa. A oração revela na pessoa o lado espiritual mais alto da sua natureza.
Deus ama a Sua criação, ama a cada um de nós e Ele é o nosso Pai celeste. Tal como é natural dos filhos o desejo de ver os seus pais e conversar com eles, assim deve ser natural a nós, à vontade de se comunicar e conversar com Ele, espiritualmente. Esta venerante conversa da pessoa com Deus chama-se oração. A alma juntando-se com Deus durante a oração, junta-se também com o mundo dos anjos e dos santos. Segundo as palavras de São João de Kronstad , "a oração é a ligação de ouro da pessoa-cristã, peregrina e estrangeira aqui na terra, com o mundo espiritual do qual faz parte, e sobretudo com Deus - a fonte da vida."
A oração é acompanhada muitas vezes de palavras venerantes e de outros gestos exteriores de veneração: o sinal da cruz, genuflexões, vênias, e outros. Porém, a oração pode se elevar sem palavras e sem outras aparições exteriores. Essa é a oração profunda interior que é conhecida pela experiência de muitos cristãos dedicados.
Tipos de oração
Durante a oração, o cristão expõe perante Deus toda a sua alma: louva Deus pela Sua altíssima perfeição, agradece pela misericórdia e pede conforme as necessidades. Daí temos os principais três tipos de oração: o louvor, o agradecimento e o pedido.
Louvor - é o mais absoluto e desinteresseiro tipo de oração. Quanto mais puro e impecável é o ser, mais se refletem nele as altíssimas perfeições de Deus, e refletindo-se, evocam involuntariamente palavras extasiadas de louvor e glória. Assim, os anjos nos Céus louvam Deus sem cessar com um canto de louvor. "O louvor" - diz o Bispo Teofano Hermesista - não é uma fria visão das propriedades de Deus, mas sim um vivo sentimento delas com alegria e admiração.
Agradecimento - manifesta-se na pessoa pela recepção de bênçãos de Deus. Nasce naturalmente numa alma grata e sensível. Dos dez leprosos que foram curados pelo Salvador, apenas um samaritano voltou para Lhe agradecer (Lucas 17:12-19).
O tipo de oração mais habitual é o pedido que é revelado na pessoa pela consciência da sua fraqueza e falta de experiência. Devido às paixões, a nossa alma está doente e fraca. Por isso, na oração é indispensável pedir a Deus perdão pelos pecados e ajuda para superar as nossas faltas. Às vezes, o pedido é evocado pela ameaça de algum perigo, alguma necessidade, etc. O pedido é inevitável devido a nossa fraqueza e agrada ao Senhor (Mateus 7:7, João 16:23). Contudo, se a oração têm predominantemente um só caráter de pedido e se a voz de louvor e de agradecimento praticamente não são ouvidas, isso indica que o nosso nível de progresso, espiritual e moral está bem baixo.
Os diferentes tipos de oração, freqüentemente se juntam entre si. Uma pessoa pede a Deus pelas suas necessidades e ao mesmo tempo louva-O pela Sua grandeza, bondade e agradece-Lhe por se poder direcionar a Ele tão ousadamente como ao seu misericordioso Pai.
Os mais solenes cantos de louvor da igreja, se tornam freqüentemente, pedidos enternecidos ("Glória a Deus nas alturas," "A Ti Deus louvamos"). E, às vezes, acontece o contrário: as mais humildes súplicas acabam com uma gloriosa harmonia de um canto de louvor e agradecimento. Assim são muitos dos Salmos como por exemplo: o 146, 149 e outros.
Como se deve rezar
Antes de começar a rezar deve-se livrar de todas as ocupações e deveres habituais, reunir os pensamentos, como se fechasse a porta da sua alma para tudo o que é terrestre, e direcionar toda a sua atenção para Deus.
Estando perante a face de Deus e imaginando vivamente a Sua grandeza, quem reza ,deve sentir uma profunda consciência da sua indignidade e fraqueza. "Orando deve-se imaginar toda a criação como nada perante Deus, e unicamente Deus - Tudo" (São João de Kronstad). Um moralizante exemplo da disposição do orador, o Salvador apresentou-nos na parábola do publicano que fora perdoado por Deus pela sua humildade (Lucas 18:9-14).
A humildade de um cristão não dá origem ao desânimo nem ao desespero, pelo contrário, ela reúne-se com a forte fé na bondade e onipotência do nosso Pai celeste. Apenas uma oração com fé pode ser ouvida por Deus: "Tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes e será assim convosco" (Marcos 11:24). Aquecida pela fé, a oração de um cristão torna-se dedicada. Ele tem em mente o testamento de Jesus Cristo, que deve-se rezar sempre e não desanimar (Lucas 18:1), tem em mente a Sua promessa: "Pedi, e dar-se vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se vos-á" (Mateus 7:7). As imagens Evangélicas da mulher cananéia que pediu a Cristo cura da sua filha (Mateus 15:21-28), da pobre viúva que conseguiu justiça de um juiz injusto (Lucas 18:2-8), e outros casos semelhantes a este dão testemunho da grande força da oração. Mesmo que a oração não seja logo ouvida, o orador não se deve desesperar e nem perder o ânimo: Isso, é uma prova e não um recuso. Por isso Jesus Cristo disse: "batei," para mostrar que mesmo se Ele não abre logo as portas da Sua misericórdia deve se aguardar com uma clara esperança" (Crisóstomo). O verdadeiro cristão, continuar a rezar com uma força e dedicação incorruptas, até convencer o Senhor e trazer para si a Sua misericórdia . Como o patriarca Jacó, que disse ao desconhecido com quem lutava: "não te deixarei ir se não me abençoes," e, de fato, ele recebeu a benção de Deus (Gênesis 32:26).
Como o Senhor é o nosso Pai celeste, somos todos irmãos. Ele receberá a nossa oração, apenas quando tivermos uma disposição verdadeiramente fraternal e benevolente para com as pessoas, quando destruirmos todas as maldades, inimizades, cobrirmos com o perdão os aborrecimentos e fizermos as pazes com todos: "Quando estiverdes orando se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que o vosso Pai celeste perdoe as vossas ofensas" (Marcos 11:25).
O que pedir a Deus
São Isaque, o sírio, disse o seguinte a respeito do que se deve pedir a Deus: "Não sejas imprudente nos teus pedidos para não enfureceres Deus com a tua falta de senso, sê razoável para te habilitares a dons gloriosos. Pede aquilo que tem valor a Aquele que é alheio à sovinice, e receberás o que tem valor segundo o teu razoável desejo. Salomão pediu sabedoria e juntamente com ela recebeu o reino terrestre, porque pediu com senso ao grande Rei. Elizeu pediu uma exclusiva benção do Espírito Santo em relação a que possuía o seu mestre, e o seu pedido não foi recusado. Quem pede algo insignificante ao Rei rebaixa a Sua honra."
O grande mestre da oração é o nosso Salvador. A oração acompanha todos os fatos importantíssimos da Sua vida terrestre. O Senhor reza ao receber o batismo de João (Lucas 3:21); passa uma noite inteira em oração antes da escolha dos apóstolos (Lucas 6:12); reza durante a transfiguração (Lucas 22:41), e reza na cruz. A última palavra do Senhor antes de morrer, foi uma oração (Lucas 23:46).
Sob a impressão inspirante do Salvador a rezar, um dos discípulos direcionou-se a Ele com um pedido: "Senhor ensinai-nos a rezar" (Lucas 11:1). E como resposta a isso, o Senhor deu-lhe uma oração curta no tamanho mas rica no conteúdo, a tal maravilhosa oração, que até hoje reúne todo o mundo cristão. Essa oração chama-se "Pai Nosso" ou "Oração Dominical." Ela nos ensina sobre o quê e em que ordem é que devemos rezar. Direcionando-nos para Deus: "Pai nosso," consideramo-nos seus filhos e em relação um ao outro - irmãos, por isso não rezamos apenas por nós, mas por todas as pessoas. "Santificado seja o Teu Nome" - pedimos para que o Teu Nome seja sagrado para todos e que todas as pessoas louvem o Nome de Deus com as suas palavras e os seus atos. "Venha a nós o Teu Reino." O Reino de Deus começa no interior de cada pessoa religiosa, quando a benção de Deus entrando nela, a purifica e transfigura o seu mundo interior. Juntamente com isso, a sensação da presença de Deus, reúne todas as pessoas e os anjos numa grande família espiritual, chamada Reino de Deus ou da Igreja. Para que o bem se difunda entre as pessoas é preciso pedir: "Seja feita a Tua vontade assim na terra como no Céu" - ou seja, que tudo no mundo se faça segundo a inteiramente boa e a mais sábia vontade de Deus, e que nós as pessoas, igualmente de bom grado, realizemos a vontade de Deus aqui na terra, como a realizam os anjos no Céu. "O pão nosso de cada dia nos dai hoje" - Dai-nos hoje, tudo o que é indispensável para a alimentação do nosso corpo; o que acontecerá conosco amanhã nós não sabemos: necessitamos apenas do pão diário, ou seja, de cada dia, que é indispensável para manter a nossa existência. "E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores," estas palavras são explicadas por São Lucas, que as escreve da seguinte forma: "E perdoa-nos os nossos pecados" (Lucas 11:4). Nossos pecados são dívidas, porque ao pecarmos não realizamos o que devemos, e nos tornamos devedores perante à Deus e as pessoas. Este pedido insinua-nos com uma força especial, a necessidade de perdoar ao próximo todas as ofensas: não perdoando aos outros, não ousamos pedir perdão a Deus pelos nossos pecados, não ousamos rezar com as palavras da oração do Senhor. "E não nos deixes cair em tentação" - verificação das nossas forças morais por meio da inclinação para qualquer ato impuro. Aqui, nós pedimos a Deus para nos prevenir da queda, se uma tal prova das nossas forças é inevitável e indispensável. "Mas livra-nos do mal" - de toda a maldade e do seu culpado - o diabo. A oração acaba com a certeza na realização daquilo que fora pedido, pois a Deus pertence o Reino eterno, o poder e a glória.
Desse modo, o Pai Nosso reúne em si tudo sobre o que se deve rezar, ensina-nos a colocar todas as nossas necessidades na ordem correta: primeiro pedir a benção mais alta - a glória de Deus, a difusão do bem entre as pessoas e a salvação da nossa alma. Depois pedir pelas necessidades da vida quotidiana. "Em relação a elas, não Lhe vamos ensinar o meio de nos ajudar," diz São João (Crisóstomo). "Se as pessoas que nos defendem, falam por nós perante os juizes deste mundo, dizemos apenas os nossos atos e deixamos a eles o meio de defesa, mais ainda devemos agir dessa forma em relação a Deus, Ele próprio sabe bem o que é melhor para ti." Além disso, devemos nos entregar inteiramente à vontade de Deus, "seja feita a Tua vontade." O exemplo tal oração, deixou-nos o próprio Salvador. Ele rezava no jardim de Getsêmani, o seguinte: "Meu Pai, se possível passe de Mim este cálice! Todavia não seja como Eu quero, e, sim, como Tu queres" (Mateus 26:39).
Quando se deve rezar
O apóstolo Paulo nos ensina: "Orai sem cessar" (1 Tes. 5:17). É preciso rezar naqueles claros e altos momentos, quando a alma recebe assistência das alturas, e direcionando-se ao céu sente necessidade da oração. É preciso rezar em todas as horas que são indicadas para a oração (de manhã e à noite), mesmo que nos pareça não estarmos dispostos a rezar nesse momento. Se não o fizermos, a capacidade de rezar se perde, assim como se enferruja uma chave que não é utilizada. Para que a nossa alma se conserve religiosamente fresca, é preciso impor como objetivo, rezar regularmente, independentemente de termos ou não vontade de rezar. Deve-se começar e acabar com a oração qualquer boa ação. Em relação a isso, o livro de oração é um indispensável companheiro de viagem. Os cristãos ortodoxos, devem rezar todos os dias, de manhã e à noite, antes de dormir.
Além da freqüente oração em casa, existe também a oração comunal na igreja. Sobre ela o Senhor fala o seguinte: "Onde estiverem dois ou três reunidos em Meu Nome, aí estou Eu no meio deles" (Mateus 18:20). Desde o tempo dos apóstolos, a oração comunal mais importante tem sido a Liturgia, que era realizada na igreja aos domingos, onde os crentes com um só coração, louvam à Deus. Os ofícios comunais têm uma grande força espiritual.
Os frutos da oração
A oração, como um agricultor, cultiva a seara do nosso coração e o torna capaz de receber influências celestes para criar frutos abundantes de virtudes e perfeição. Ela atrai a graça do Espírito Santo a nós e com isso fortifica a nossa fé, esperança e amor. Ela ilumina a nossa mente fortificando a vontade de qualquer boa intenção e contenta o coração no tempo de tristeza e sofrimento. Resumindo, a oração traz tudo o que contribui para o nosso verdadeiro bem.
A oração, segundo o ensinamento dos Santos Pais, é "o respiro da alma," e faz um grande bem para a pessoa. "O dom da oração," ou seja, o saber rezar concentradamente de todo o coração, é um dos mais preciosos dons espirituais. O misericordioso Senhor dá esse dom à pessoa como assiduidade pelo seu esforço na oração.