Por: Fáio Zambeli,
Folha de São Paulo
Alheio à recomendação da Igreja Católica de manter neutralidade na campanha eleitoral, o bispo de Guarulhos, d. Luiz Gonzaga Bergonzini, prega boicote à candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República por considerar o PT favorável à descriminalização do aborto.
Em artigo intitulado "Dai a César o que é de César e a Deus o que é Deus", publicado no site oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Bergonzini evoca deliberações dos congressos nacionais petistas de 2007 e 2010 e o 3º Plano Nacional dos Direitos Humanos para classificar o partido como "contrário aos valores da família".
"Recomendamos a todos verdadeiros católicos a que não deem seu voto à senhora Dilma Rousseff e demais candidatos que aprovam tais liberações, independentemente do partido a quem pertençam", diz o bispo no texto, datado de 1º de julho.
Embora admita no artigo que a Igreja Católica "não se posiciona nem faz campanha", d. Bergonzini, 78 anos, diz que sua posição é lastreada na missão de "zelar para o que o que é Deus não seja manipulado e usurpado por César".
"Quando acontece essa usurpação ou manipulação é dever da Igreja intervir convidando a não votar em partido ou candidato que torne perigosa a liberdade religiosa e de consciência ou desrespeito á vida humana e aos valores da família", afirma o religioso no documento.
Na carta, o bispo cita a punição imposta pelo PT aos deputados federais Luiz Bassuma (BA) e Henrique Afonso (AC), que condenaram publicamente o apoio petista à legalização do aborto e migraram para o PV.
Segundo maior colégio eleitoral paulista, com 788.832 votantes, Guarulhos é hoje o principal reduto petista no Estado --a cidade é governada pelo partido desde 2001.
Dilma, que se diz recém-convertida à Renovação Carismática Católica, modificou seu discurso sobre o aborto nos últimos três anos. Em outubro de 2007, durante sabatina promovida pela Folha, ela se mostrou favorável à descriminalização.
"Acho que tem de haver a descrminalização do aborto. No Brasil, é um absurdo que não haja, até porque nós sabemos em que condições as mulheres recorrem ao aborto", disse à ocasião.
Em suas últimas manifestações públicas sobre o tema, a petista mudou de postura. "Eu sou a favor de manter a legislação", afirmou no Programa "Roda Viva", da TV Cultura, veiculado no último 28 de junho.