Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Assessoria de Comunicação da Arquidiocese de Belo Horizonte
O apóstolo Paulo, em confronto com dinâmicas de diferentes culturas e tentando ajustar o desafio permanente que é o exercício da autoridade, aponta uma orientação, no mínimo intrigante. Ele diz, escrevendo aos Romanos: "todos se submetam às autoridades que exercem o poder, pois não existe autoridade que não venha de Deus. E as autoridades que existem foram estabelecidas por Deus" (Rm 13,1). A interpretação da submissão e respeito às autoridades se localiza na referência fundamental e insubstituível a Deus. Isso significa dizer que uma autoridade se justifica e tem a propriedade de ser ouvida e obedecida na medida em que se mostra semelhante ao que Deus é: amor.
A partir desse princípio, compreende-se que o exercício de toda autoridade vinda de Deus é serviço aos outros, em favor de suas vidas, de sua dignidade e de sua integridade – em razão do amor. Por isso mesmo, inadmissível é entender, e, sobretudo, exercer a autoridade, como garantia de si e para si mesmo. São pertinentes as invectivas proferidas por Jesus e dirigidas aos seus conterrâneos religiosos e detentores do poder. Assim, narra o evangelista Mateus, 23, 2-4: "os escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo". Jesus fala da cátedra de Moisés para evocar a indispensável autoridade moral que se deve ter para ocupar tal lugar.
Não basta apenas ter adquirido o direito por algum meio, particularmente advindo de títulos ou em consideração ao tempo dedicado. É preciso assumir o desafio de exercer a autoridade em todos os âmbitos. Há uma racionalidade que deve ser enraizada, portanto, n’Aquele que é a referência única por ser a fonte inesgotável dela, Deus, Deus amor. O exercício da autoridade, pois, não é a satisfação pessoal de propósitos e menos ainda a afirmação de si mesmo diante dos outros e da sociedade. Supõe que se tenha autoridade moral como condição básica para fecundar o equilíbrio insubstituível que seu uso requer, além da capacidade de discernimento e de sabedoria. Sem o tempero da moralidade, o exercício da autoridade fica comprometido. Não bastam, por isso mesmo, as garantias de conhecimento técnico ainda que com o suporte de uma considerável experiência.
E as eleições deste ano marcam essa perspectiva, de modo forte, quando requerem candidaturas que comprovem um lastro confiável de moralidade no exercício da autoridade, no desempenho de papéis e responsabilidades que, especialmente, dizem respeito à vida do povo. Essa exigência tão importante pega muita gente na contramão de suas pretensões e reafirma, no coração da sociedade sofrida, a importância fundamental de se ter autoridade moral. Aliada à autoridade moral há também outra de importância fundamental: a autoridade intelectual. Não basta a boa vontade para alcançar propósitos. A autoridade intelectual ilumina de modo especial a competência técnica e cria mecanismos e possibilidades para respostas rápidas e úteis, exigências intrínsecas ao terceiro milênio.
O exercício da autoridade não é uma façanha de demonstração de próprio poder, por barganhas e manipulações tão comuns por parte dos que a exercem de maneira medíocre. Tem autoridade quem a exerce ancorado em competências moral, intelectual, espiritual, técnica e humanística.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte