quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Prefácio

O Drama do Fim dos Tempos

As páginas que se seguem, escritas pelo R. P. Emmanuel, Prior do Mosteiro de Mesnil-Saint-Loup, têm cem anos. Foram redigidas em 1884-1885, e estão sendo publicadas em 1985.
O Reverendo Padre Emmanuel é um teólogo, mas sua doutrina é toda orientada para a vida espiritual. Sua alma arde do desejo de comunicar a verdade às almas, de levá-las ao Louvor de Deus, de santificá-las ao modo de São Bento que queria fazer de seus monges bons cristãos, quer dizer, discípulos de Jesus Cristo.
A leitura destas páginas sobre a Igreja é entusiasmante, sente-se nelas o sopro do Espírito Santo. Algumas dentre elas são mesmo proféticas, quando descrevem a Paixão da Igreja. O ano de 1884 foi também o ano da redação por Leão XIII de seu exorcismo pela intercessão de São Miguel Arcanjo, que anuncia a iniqüidade no trono de Pedro.
Alguns anos antes o Papa Pio IX fizera publicar os Atos da seita maçônica da Alta Venda, que são verdadeiras profecias diabólicas para nosso tempo.
O Reverendo Padre dá precisões surpreendentes sobre o indiferentismo religioso, que corresponde exatamente à heresia ecumênica de nossos dias. Que teria ele dito ou escrito se vivesse em nossa época! Por seus escritos ele nos encoraja a permanecermos firmes na fé da Igreja Católica e a recusar os compromissos que arruínam a liturgia, sua doutrina e sua moral. O exemplo de seu apostolado na paróquia de Nossa Senhora da Santa Esperança do Mesnil-Saint-Loup permanece um testemunho de seu zelo e de sua santidade.
Possam estas páginas ter uma larga difusão pela intercessão de Nossa Senhora da Santa Esperança. Que Ela se digne abençoar seus leitores e editores.

PRIMEIRO ARTIGO março de 1885

UMA PALAVRA AO LEITOR
I
Consideramos a Igreja no passado e no presente; falta-nos contemplá-la no futuro.
Deus quis que os destinos da Igreja de seu Filho único fossem traçados de antemão nas Escrituras, como foram os de seu próprio Filho; é lá que iremos procurar os documentos de nosso trabalho.
A Igreja, devendo ser semelhante a Nosso Senhor, sofrerá, antes do fim do mundo, uma prova suprema que será uma verdadeira Paixão. São os detalhes desta Paixão, na qual a Igreja fará ver toda a imensidade de seu amor por seu divino Esposo, que se acham consignados nos escritos inspirados do Antigo e Novo Testamento. Nós os passaremos diante dos olhos de nossos leitores.
Não temos a intenção de assustar ninguém tratando de tal assunto. Diremos mais: ele nos parece conter, ao lado de grandes ensinamentos, grandes consolações.

II
Certamente é um triste espetáculo ver a humanidade, seduzida e enlouquecida pelo espírito do mal, tentar sufocar e aniquilar a Igreja sua mãe e sua tutora divina. Mas deste espetáculo sai uma luz que nos mostra a história por inteiro em seu verdadeiro aspecto.
O homem se agita sobre a terra; mas ele é empurrado por potências que não são da terra. Na superfície da história, o olhar apreende as desordens dos impérios e das civilizações que surgem e desaparecem. Por baixo disto a fé nos faz seguir o grande antagonismo entre Satã e Nosso Senhor; nos faz assistir às astúcias e às violências do espírito imundo, para entrar na casa da qual foi expulso por Jesus Cristo. No fim ele entrará e quererá eliminar Nosso Senhor. Então os véus serão rasgados, o sobrenatural brilhará em toda parte; não haverá mais política propriamente dita; um drama puramente religioso se desenvolverá e envolverá todo o universo.
Pode-se perguntar por que as peripécias deste drama são descritas tão minuciosamente pelos escritores sagrados, já que ele durará pouco tempo? Porque será a conclusão de toda a história da Igreja e do gênero humano. Porque fará ressaltar, com um brilho supremo, o caráter divino da Igreja.
Além disso, todas essas profecias têm incontestavelmente o fim de fortificar a alma dos fiéis nos dias da grande prova. Todos os abalos, todos os pavores, todas as seduções que virão assaltá-los, tendo sido preditos tão exatamente, constituirão argumentos em favor da fé combatida e proscrita. A fé, neles se firmará precisamente por aquilo que deveria destruí-la.
Mas nós mesmos temos grandes frutos a tirar da consideração desses estranhos e terríveis acontecimentos. Depois de ter falado deles, Nosso Senhor disse a seus discípulos: "Velai e orai, para que sejais encontrados dignos de fugir destas coisas que acontecerão no futuro, e de permanecerdes de pé na presença do Filho do Homem" (Lc 21, 36).
Assim, pois, o anúncio desses acontecimentos é um aviso solene dado ao mundo: "Velai e orai para não cairdes em tentação". (Mt 26, 41).
Não sabeis quando essas coisas acontecerão: velai e orai, para não seres surpreendidos.
Sabeis que desde agora a sedução age nas almas, que o mistério da iniqüidade faz sua obra, que a fé é reputada um opróbrio (São Gregório); velai e orai, para conservar a fé.
Eis a hora da noite, hora das potências das trevas: Velai para que vossa lâmpada não se apague, orai para que o torpor e o sono não tomem conta de vós.
Mas antes levantai vossas cabeças para o céu; pois a hora da redenção se aproxima, pois começam a raiar os primeiros clarões da aurora. (Lc 21, 28).

III
Depois de ter falado dos ensinamentos, digamos uma palavra sobre as consolações.
Nunca se terá visto o mal tão solto; e ao mesmo tempo tão contido pela mão de Deus.
A Igreja, como Nosso Senhor, será entregue sem defesa aos carrascos que a crucificarão em todos os seus membros: mas não lhes será permitido quebrar seus ossos, que são os eleitos, assim como com o cordeiro pascal estendido sobre a cruz.
A provação será limitada, abreviada por causa dos eleitos; e os eleitos serão salvos; e os eleitos serão todos os verdadeiros humildes.
Enfim, a provação acabará por um triunfo inaudito da Igreja, comparável a uma ressurreição.
Nesse tempo, e mesmo nos prelúdios da crise suprema, ela verá os restos das nações se converterem. Mas sua mais viva consolação será a volta dos judeus.
Os judeus se converterão, seja antes, seja durante o triunfo da Igreja; e São Paulo, que anuncia esse grande acontecimento, não se contém de alegria ao contemplar o que se seguirá.
Vê-se como as palavras do salmo podem se aplicar à Igreja: Seguindo a multidão de aflições que encheram meu coração, vossas consolações, Senhor, alegraram minha alma.