segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Crise Final

O Drama do Fim dos Tempos - A CRISE FINAL

Paremos um instante diante dos intrépidos missionários de Deus e notemos a oportunidade divina de sua aparição.
Segundo São Pedro: "nos últimos tempos virão embusteiros, zombadores sedutores vivendo as suas concupiscências, dizendo: Onde está a promessa e a vinda (de Jesus Cristo)? Desde que nossos pais morreram tudo continua como desde o princípio da criação" (2 Pd 3, 3-4).
Esses sedutores, estes embusteiros, os estamos vendo com nossos próprios olhos, ouvindo com nossos ouvidos. Chamam-se racionalistas, materialistas, positivistas: negam, "a priori", toda causa superior, todo fato sobrenatural; não se interessam em saber de onde vêm, nem para onde vão; semelhantes aos insensatos do livro da Sabedoria olham a vida como uma dessas nuvens da manhã que não deixam rastro ao raiar do sol. O que está além do túmulo, chamam o grande desconhecido; recusam-se terminantemente a investigá-lo. Em conseqüência, o todo do homem, a seus olhos, está em gozar o mais possível o momento presente, pois tudo o mais é incerto.
Esses falsos sábios relegam os escritos de Moisés a cosmogonias fabulosas. Recusam-se a reconhecer algum valor histórico nos livros santos. Segundo o que dizem, todos esses documentos, em contradição com a ciência, seriam obras de um judeu exaltado, Esdras, que quis realçar sua nação.
Quanto à vinda de Jesus Cristo, à ressurreição geral, ao julgamento final, às recompensas e às penas eternas, tratam como sonhos absurdos. Asseguram que a humanidade, em via de um indefinido progresso, encontrará um dia o paraíso na terra.
Ora, para confundir esses impostores, Deus suscitará Henoc, representante do período ante-diluviano; Henoc, quase contemporâneo das origens do mundo. Suscitará Elias, representante do judaísmo mosaico; Elias que, de um lado, toca Salomão e David de outro Isaías e Daniel.
Estes grandes homens virão, com indiscutível autoridade, estabelecer a autenticidade da Bíblia, e mostrar que o Cristianismo está ligado à era dos profetas até Moisés e à era dos patriarcas até Adão. Neles se levantarão todos os séculos para renderem testemunho à verdade da revelação. Nunca a divindade do Cordeiro que foi morto desde a origem do mundo (Ap 13, 8) resplandecerá de modo mais fulgurante.
Ao mesmo tempo anunciarão com veemência a aproximação do julgamento. Retomando as palavras de São João, clamarão a todos os confins do mundo: "Fazei dignos frutos de penitência... o machado já está posto à raiz das árvores... Ele tem a pá em sua mão e limpará bem a sua eira, e recolherá o trigo no celeiro mas queimará as palhas em um fogo inextinguível" (Mt 3, 8-13).
Continuando a predição do Eclesiástico, Henoc pregará a penitência às nações, que compreendem todos os povos fora do judaísmo; ele lhes falará com a majestade de um antepassado e lhes fará conhecer e reconhecer Jesus Cristo, o Desejado das Nações.
Elias se dirigirá especialmente aos judeus que esperam Sua vinda; ele se dará a conhecer por sinais de extrema evidência; fará Jesus brilhar a seus olhos, Jesus que é osso de seus ossos e carne de sua carne.
É fora de dúvida que a essas pregações, apesar das ameaças e dos tormentos, seguirão numerosas e estrondosas conversões, principalmente do lado dos judeus; isto está formalmente predito.
As duas testemunhas de Deus pregarão tanto juntas como separadas; e durante três anos e meio percorrerão verdadeiramente a terra toda. Os jornais farão em volta deles a conspiração do silêncio (como em volta dos milagres de Lourdes); mas eles se imporão à atenção do mundo. O Anticristo tentará em vão apanhá-los, pois o fogo devorará quem quer que ouse lhes tocar. Eles passarão com o gládio da justiça de Deus no meio dos homens que vivem no prazer e no deboche; eles os ferirão com chagas horríveis.
No entanto, assim como a missão de Nosso Senhor, a deles terá um tempo determinado. Em dado momento perderão a assistência sobrenatural que os protegia até então. Escutemos São João.

II
"E depois que tiverem acabado de dar o seu testemunho, a fera que sobe do abismo fará guerra contra eles, e vencê-los-á e matá-los-á.
"E os seus corpos ficarão estendidos nas praças da grande cidade, que se chama espiritualmente Sodoma e Egito, onde também o Senhor deles foi crucificado.
"E os homens de diversas tribos, e povos e línguas e nações verão os seus corpos durante três dias e meio; e não permitirão que seus corpos sejam sepultados.
"E os habitantes da terra se alegrarão por causa deles e farão festas e mandarão presentes uns aos outros porque esses dois profetas os tinham atormentado.
"Mas depois de três dias e meio o espírito de vida entrou neles da parte de Deus. E eles puseram-se em pé, e apoderou-se um grande temor dos que os viram.
"E ouviram uma grande voz do céu que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu numa nuvem e seus inimigos foram testemunhas disso.
"E naquela mesma hora deu-se um grande terremoto e caiu a décima parte da cidade; e no terremoto morreram sete mil homens e os restantes, atemorizados, deram glória ao Deus do céu" (Ap 11, 7-14).
Que conclusão de uma drama inaudito! Que afirmação do sobrenatural! Os dois profetas se encontrarão em Jerusalém, onde seu Senhor foi crucificado. Participarão das divinas fraquezas de Jesus; como ele serão presos, como ele julgados, como ele atormentados, como ele serão mortos, talvez na cruz.
Pensar-se-á que chegou o fim. O Anticristo parecerá triunfar em toda a linha. Zombarão dos dois profetas: rirão e dançarão em torno de seus cadáveres; deixá-los-ão sem sepultura para se regalarem à vontade.
Mas de repente os dois profetas ressuscitarão; uma grande voz soará do alto do céu e eles subirão ao céu diante de uma multidão inumerável tomada de súbito terror. Haverá um grande terremoto na cidade deicida; sete mil homens perderão a vida, outros baterão no peito e darão graças a Deus.
Repetimos, que drama, que desenlace!
O que fará o Anticristo diante de tais prodígios? Espumará de raiva, sentirá que tudo lhe escapa, que a hora da justiça está próxima.
Pode-se acreditar que nesse mesmo instante surgirá sua punição prescrita por São Paulo: "Jesus Cristo o matará com o sopro de sua boca e o destruirá pelo brilho de sua vinda" (3 Ts 2, 8).
No entanto, segundo os cálculos de Daniel, parece que o castigo do monstro será atrasado trinta dias depois da assunção triunfante de Henoc e Elias. Daniel diz que a partir da supressão do sacrifício perpétuo, quando aparecerá a abominação da desolação, passarão 1.290 dias (Dn 12, 11), por conseqüência 30 dias mais do que o tempo da pregação de Henoc e de Elias.
Durante esses intervalo, o Anticristo tentará de todo jeito retomar a influência perdida. Não queremos admitir nenhuma visão no âmbito deste relato; se fazemos exceção para a de Santa Hildegarda sobre o fim do inimigo de Deus é porque não passa de um comentário da palavra de São Paulo: Jesus o matará com o sopro de sua boca!
A Santa vê em espírito o monstro, cercado de seus oficiais e de imensa multidão, subir uma montanha. Chegando ao cume, anuncia que vai elevar-se nos ares. Foi elevado, com efeito, como Simão o mágico, pelo poder do demônio. Mas nesse momento reboa um forte trovão e ele cai fulminado. Seu corpo se decompõe na mesma hora e exala um fedor intolerável e todos fugirão apavorados.
Assim, ou de maneira análoga, acabará o inimigo de Deus.
E seu imenso império se evaporará como uma fumaça. O mundo se sentirá aliviado de um peso esmagador. E haverá uma conversão geral que no dizer de São Paulo parecerá uma ressurreição. Disso falaremos no próximo artigo.

A CONVERSÃO DOS JUDEUS
A Santa Escritura nos assinala um grande acontecimento que se nos mostra entrelaçado na guerra que o Anticristo desencadeará contra a Igreja: a conversão dos judeus.
Deixamos este assunto de lado até aqui para tratá-lo com mais detalhes. Além disso, aqui ele estará muito bem colocado, pois a conversão dos judeus nos é apresentada como fruto da pregação de Elias.

I
O povo judeu é o ponto em torno do qual gira a história da humanidade. Ele recebeu o toque de Deus na pessoa de Abraão de onde saiu. É, antes da vinda de Nosso Senhor, o povo sacerdotal por excelência, cujo estado, no testemunho de Santo Agostinho, é inteiramente profético; dele nasceu a Santíssima Virgem e o Salvador do mundo; ele formou o núcleo da Igreja nascente. Todos esses privilégios fazem da raça judia uma raça excepcional cujos destinos são misteriosos.
Por uma inversão estranha e lamentável, no momento em que ela produz o Salvador do mundo, a raça eleita, a raça bendita entre todas merece ser condenada. Recusa reconhecer, em sua humildade, Aquele em quem ela não sabe adorar as grandezas invisíveis. Parece que Deus quis mostrar assim que não há nada da carne e do sangue na vocação do cristianismo, já que aqueles mesmos a quem pertencia o Cristo, segundo a carne (Rm 9, 5), são rejeitados por causa de seu orgulho tenaz e carnal.
Será uma condenação definitiva? Permanecerão presas de Satã excluídos do resto do mundo pela cruz do Senhor? Deus não permita! Deus prepara supremas misericórdias para o povo que foi seu. A esse povo, a quem foi dito: "Não sois mais meu povo", será dito um dia: "Vós sois os filhos do Deus vivo". (Os 3, 4-5). Depois de ter ficado longos anos sem rei, sem príncipe, sem sacrifício, sem altar, os filhos de Israel procurarão o Senhor seu Deus; e isso acontecerá no fim dos tempos. (Id. III, 4, 5)
Elias será o instrumento dessa volta maravilhosa. "Eu vos enviarei, diz o Senhor em Malaquias, o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E ele voltará o coração dos pais para os filhos, o coração dos filhos para os pais" (Ml 4, 5-6).
Quer dizer, restabelecerá a harmonia dos mesmos amores, das mesmas adorações entre os santos antepassados do povo judeu e seus últimos descendentes.
São Paulo insiste por sua vez sobre esse acontecimento tão consolador. Ele vê na condenação dos Judeus a causa ocasional da vocação dos Gentios. Depois acrescenta: "Porque eu não quero, irmãos, que vós ignoreis este mistério, que uma parte de Israel caiu na cegueira até que tenha entrado a plenitude das nações e então todo Israel se salve" (Rm 11, 25).
Tal é o desígnio de Deus. É preciso que toda a gentilidade entre na Igreja; e que, quando terminar o desfile das nações, Israel entre por sua vez. Este será o grande jubileu do mundo; a graça se espalhará por torrentes. Tomando as profecias ao pé da letra, todos os judeus que então estiverem vivos, ainda que numerosos como as areias do mar, serão salvos até o último (Rm 9, 27).
Para compreender os frêmitos profundos que esse grande acontecimento fará correr pelo mundo, é preciso usar as figuras proféticas pelas quais Deus houve por bem anunciá-lo.
O povo judeu entrando na Igreja, é Esaú se reconciliando com Jacob. Com que ternura! "Correndo ao encontro de seu irmão, Esaú abraçou-lhe o pescoço e beijando-o, chorou".
Mas é sobretudo José reconhecido por seus irmãos que é o verdadeiro símbolo de Jesus reconhecido por seus irmãos, os judeus! Outrora venderam-no e crucificaram-no e agora uma imperativa necessidade de verdade e de amor leva-os a seus pés no fim dos tempos. Que encontro! Que espetáculo! Jesus, com todo o brilho de seu poder, desvendando aos judeus os tesouros de seu coração, e lhes dizendo: "Eu sou José, eu sou Jesus a quem vós vendestes!" (Gn 45).
Abri enfim o Evangelho, na página do filho pródigo (Lc 15). Esse pródigo que vem de tão longe são os pobres gentios entrando na Igreja. Os judeus são representados pelo filho mais velho, ciumento, egoísta, que se obstina em permanecer de fora porque seu irmão foi recebido em casa. O pai sai e lhe faz instantes rogos, coepit illum rogare. Esse desnaturado recusa escutar o pai; mas por fim o escutará, entrará e essa entrada trará alegria dobrada à casa paterna.
Não, não se pode imaginar qual será a alegria da Igreja quando ela abrir seu seio de mãe aos filhos de Jacó. Não se pode imaginar as lágrimas, os transportes de amor destes quando for retirado o véu de seus olhos, reconhecerem seu Jesus. Qual será o momento preciso deste grande acontecimento? Esta é a dificuldade. Sem pretender resolvê-la, esperamos esclarecê-la um pouco.

II
Segundo a tradição, parece certo que o Anticristo será de nacionalidade judia. Ele aparecerá como o produto desta fermentação de ódio que há séculos exaspera o coração dos judeus contra Jesus, seu terno irmão, seu incomparável amigo. Também parece certo que os judeus, em boa parte, acolherão esse falso messias seguindo-o em cortejo e lhe submetendo o mundo pela má imprensa e pela alta finança.
Mas desde o tempo que precederá o homem do pecado, se formará entre os judeus uma corrente de adesão à Igreja! Os grandes acontecimentos têm prelúdios que os anunciam.
São Gregório declara que o furor da perseguição do Anticristo cairá principalmente sobre os judeus convertidos a quem ninguém igualará na constância em suportar todos os ultrajes e todos os tormentos pelo nome mil vezes bendito de Jesus.
Esta passagem de São Gregório é muito importante para ser omitida.
O grande papa explica uma das grandes profecias em ação de Ezequiel (Ez 3). É um drama em três atos. 1°) Deus ordena que o profeta saia para o campo; esta saída representa a difusão do Evangelho entre os gentios. 2°) Manda que volte para casa, onde é atado com cadeias, aprisionado e reduzido ao silêncio: isso indica como o Evangelho será pregado pelos judeus aos próprios judeus, dos quais alguns se converterão, outros prenderão os pregadores e os oprimirão com maus tratos, durante a perseguição do Anticristo. 3°) Deus aparece, abre a boca do profeta que fala com mais força do que nunca; é o que acontecerá na vinda de Elias que, com suas pregações inflamadas e irresistíveis, converterá os restos de sua nação (In Ezeq. lib I, hom XIII).
Não nos cansamos de admirar a lucidez profética de São Gregório. Ele distingue de antemão as fases do grande acontecimento que nos ocupa: cisão do povo judeu em duas partes, opressão dos convertidos pelos refratários, conversão total operada por Elias.
O santo Papa assegura, em seus comentários sobre Jó, que esta volta definitiva dos restos de Israel será feita diante dos próprios olhos e a despeito da raiva do Anticristo (Mor. lib XXXV e XIV). Se a Igreja goza de semelhantes consolações debaixo do fogo da perseguição, qual não será esse gozo na hora do triunfo! É o que vamos considerar rapidamente.

III
Deus emprega anjos maus para destruições necessárias. O Anticristo, a seu modo e sem o querer, será a vara de Deus.
Esta vara de ferro pulverizará os cismas, as heresias, as falsas religiões, os restos do paganismo, o maometismo e o próprio judaísmo: ela esmagará o mundo em favor de uma prodigiosa unidade.
Quando esse colosso de impiedade for abatido pela pedrinha, esta se tornará uma montanha imensa e cobrirá a terra; o Evangelho, não tendo mais nenhuma sorte de obstáculo, reinará sem contradição sobre o universo inteiro.
Os judeus serão os primeiros operários desse estabelecimento do reino de Deus. São Paulo se extasia diante das grandes coisas que resultarão de sua conversão. "Se o pecado dos judeus foi a riqueza do mundo e a sua redução a riqueza das nações quanto mais sua adesão total? ... se sua perda é a reconciliação do mundo o que será a sua entrada na Igreja senão uma ressurreição?" (Rm 11, 12, 15). Tememos enfraquecer estas antíteses enérgicas, comentando-as. É legítimo concluir que os judeus convertidos porão a serviço da Igreja um inestimável ardor de proselitismo. Rejuvenescida por essa infusão de vida, a Igreja sairá das garras da perseguição como de um túmulo, e tomará posse do mundo com a majestade de uma rainha e a ternura de uma mãe.
Serão esses acontecimentos o prelúdio imediato do último julgamento ou a aurora de uma nova era? Falaremos sobre as conjecturas que se pode formular sobre esta questão.