segunda-feira, 26 de julho de 2010

O que é espiritualidade liturgíca?

De D. Estêvão Bettencourt, OSB:


Espiritualidade Litúrgica é aquela que faz da Liturgia (Eucaristia, Sacramentos e Ofício Divino principalmente) os grandes referenciais da vida do cristão. Quem compreende o que é a Liturgia, há de concluir que a espiritualidade litúrgia é a espiritualidade clássica, ou, por excelência, da Igreja. Não é própria de alguma corrente particular, mas é fundamental e comum a todos os fiéis, porque todos são chamados a viver a Eucaristia, que tem por preliminar o Batismo e que leva a constituir o corpo eclesial de Cristo. A espiritualidade litúrgica não exclui as respostas pessoais do cristão à graça de Deus ou as devoções particulares; ao contrário, deve suscitá-las, de tal modo, porém, que estejam sempre em conformidade com o culto oficial da Igreja.

Ter uma espiritualidade litúrgica, embora seja uma das primeiras conseqüências do ser cristão, é algo que falta em muitos fiéis por não terem tido uma catequese ou formação devida.

O movimento litúrgico do século XX procurou resgatar nos fiéis uma espiritualidade enraizada na liturgia, pela difusão dos missais bilíngues para uso do povo, pela edição de livros explicando a Missa, por uma maior popularização do canto gregoriano (guardando a difícil polifonia para solenidades especiais, e mesmo assim despida de um aspecto "operístico" pós-barroco). Contudo, alguns distorceram os ideais do movimento e, entre outras coisas, contrapuseram a espiritualidade litúrgica à devoção popular e particular.

A verdadeira liturgia, entretanto, não atrapalha nem concorre com a piedade pessoal, com as procissões, novenas. Pelo contrário, sem ferir as rubricas, a integra.

Por outro lado, embora queira fazer a liturgia compreensível ao homem, sabe que Deus é o destinatário do culto e, nesse sentido, ainda que valorize o uso do vernáculo na Missa, dá o devido valor ao latim, ao canto gregoriano, e à obediência às rubricas. Não um rubricismo, não uma obediência cega, porém haurindo muitos frutos espirituais das normas postas pela Igreja de Cristo.

É assim que a Comunidade Salve Rainha pretende viver sua espiritualidade liturgíca a luz de seu carisma!

A Santa Missa é muito mais que uma reunião fraterna!

Quando a Liturgia se corrompe, toda a vida cristã corre perigo de se corromper.

A Liturgia é a oração oficial da Igreja, do povo de Deus, do Corpo Místico de Cristo.

Nela [Liturgia], é o próprio Jesus, junto com todos os que estão unidos a Ele pelos laços da fé, do batismo e do Espírito Santo, que se apresenta ao Pai em sacrifício de salvação do mundo inteiro; que ora ao Pai, que lhe oferece louvor, adoração, agradecimento, pedido de perdão, pedido de ajuda…


O centro da Liturgia é JESUS. Ela não é – não pode ser! – propriedade particular de nenhum celebrante, de nenhuma comunidade, de nenhum grupo de fiéis, de ninguém: cabe à Igreja – e só à Igreja – organizá-la, modificá-la, aperfeiçoá-la. Infelizmente, em nome de uma criatividade mal entendida (e de um Concílio Vaticano II mal interpretado), a Liturgia tem sido, muitas vezes, manipulada a bel-prazer.

Indo muito além da liberdade de ação que ela própria permite, tem-se visto de tudo em algumas celebrações litúrgicas.


O fato é que quando as pessoas se permitem certas liberdades no campo da Liturgia, violando suas normas e seus limites, as mesmas atitudes, aos poucos, vão sendo permitidas em outros campos da vida cristã, ou seja, na moral, nos mandamentos, na doutrina e por aí afora. Dessa forma, tudo fica relativo, isto é, tudo depende do ponto de vista de cada um e cada um faz “do jeito que gosta”. Corrompida a Liturgia, corrompe-se também a vida cristã e eclesial.


Sem entrar em detalhes, a Liturgia – sempre! – deve pôr em seu centro JESUS, Sua Vida, Sua Palavra, Sua morte, Sua Ressurreição, Sua Presença no meio de nós. Nesse sentido, não é a comunidade o centro da Liturgia, menos ainda o celebrante. A comunidade e o celebrante se reúnem em torno do Senhor.

É a Ele que deve ser orientada a participação da comunidade e a ação do celebrante, e este deve ter a consciência e a humildade de não pretender ser o centro das atenções; deve rejeitar todo tipo de exibicionismo. Pelo contrário, a fé e a devoção do celebrante devem dar o tom da celebração.


A comunidade precisa ser informada e formada para que sua participação não se torne um “festival”, no qual há muita “alegria e participação”, mas onde falta o silêncio, a concentração, a atenção à Palavra de Deus, o respeito pelo Corpo e Sangue de Cristo. Sobre este ponto, no dia 15 de abril de 2010, ao receber em audiência os bispos do Regional Norte 2 da CNBB, o Papa Bento XVI dirigiu-lhes palavras muito oportunas.


É bom que você conheça as passagens principais e compreenda sua importância para que uma Celebração Eucarística seja autêntica.


– “Sinto que o centro e a fonte permanente do ministério do Papa estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja. Podeis assim compreender a preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor”.


– “Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2)”.


– “Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)”!


– “O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambiguidades e reduções», particularmente quando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).


– “O culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap. Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro”.


Até aqui foram as palavras de Bento XVI. Reflita um pouco sobre elas. Pelo que depender de você, ponha no centro da Liturgia, em particular da Eucaristia, o próprio Jesus e, junto com sua comunidade, volte-se para Ele e permita que Ele tome conta de sua vida. Não faça da Liturgia um laboratório de experiências, que só na aparência seriam pastorais…


Respeite a Liturgia tal como a Igreja propõe: respeitar a Liturgia, em particular a Eucaristia, é respeitar a oração do próprio Jesus.


Faça da Eucaristia, celebrada e participada com fé, devoção e respeito, como o “fogo da lareira” que aquece toda a sua vida de discípulo/a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem Eucaristia, o mundo iria de mal a pior, pois a Eucaristia é Jesus. E Jesus é o único que pode salvar o mundo.

Dom Hilário Moser, SDB

domingo, 18 de julho de 2010

A Diferença De Religião Nos Relacionamentos

A Religiosidade É Um Assunto Que Não Se Restringe Apenas Ao Casal

Convivemos com algumas pessoas que professam espiritualidades diferentes da nossa e com as quais consideramos possuir um bom nível de relacionamento. Ainda assim, podem acontecer pequenas discussões a respeito daquilo que um ou outro acredita acerca de uma “verdade”. Mas, como colegas, sabemos que o que mantém o relacionamento em comum é a amizade, o trabalho, a diversão, entre outras coisas fundamentadas no respeito mútuo e na prudência; especialmente, quando as conversas tocam nos respectivos valores morais ou dogmas defendidos pelos amigos. Entretanto, essas diferenças podem ser um desafio a mais quando a pessoa se descobre encantada por alguém de religião diferente, pois de um lado estão os valores de sua profissão de fé e do outro o sentimento que acredita completar seu ser.


Viver o compromisso de uma vida a dois com alguém que professa um outro credo é uma questão que pode trazer algumas dificuldades para o casal no futuro. Praticamente todas as diferenças de comportamento e de hábitos são passíveis de adaptações e de mudanças, mas quando se trata de doutrina e fé, imagino que nenhum casal queira fazer concessões e abrir mão daqueles valores que fazem parte da educação de cada um. Assim, a espiritualidade dos namorados também poderá ser um fator relevante para as tomadas de decisões.


É interessante perceber que, na maioria das vezes, as pessoas que levantam tais preocupações são aquelas que buscam a fidelidade no exercício de sua fé. Para elas, talvez, a espiritualidade do namorado seja uma das primeiras coisas que gostariam de saber a respeito. Outras, entretanto, que apenas se dizem pertencer a uma denominação cristã ou crença religiosa, certamente, não vão considerar a religiosidade uma questão relevante a ponto de interferir no relacionamento. É claro que ninguém vai fazer um debate religioso logo no primeiro encontro, mas se o relacionamento manifesta sinais de ficar sério, tocar nos pontos significativos para o casal será uma boa ideia; e quanto mais cedo, melhor.


Os encontros religiosos promovidos para os fiéis têm como objetivo aproximar e fortalecer o conhecimento destes por meio de estudos e discussões, visando ampliar seus horizontes sobre o conhecimento de sua fé. Todavia, para isso acontecer entre casais de credos diferentes vai significar a renúncia da fé por parte de um dos dois. E quem, entre eles, estaria disposto a ser catequizado depois de adulto na fé do (a) namorado (a)?


Seja o casal fervoroso na sua fé ou não, o fator “religiosidade” é um assunto que não se restringe apenas a eles. Quase sempre, namorar alguém que vive uma outra espiritualidade pode causar inesperadas implicações para os familiares e amigos próximos. As famílias dos namorados percebem tais dificuldades quando se deparam com as práticas e os ritos estabelecidos pela espiritualidade vivida por aquele que está chegando à família, como por exemplo, na celebração dos dias comemorativos, nos ritos fúnebres, batizados, casamentos, entre outros. Para algumas pessoas certas manifestações religiosas podem parecer um insulto à sua profissão de fé. Esses impasses podem ser, também, um obstáculo para o crescimento do relacionamento.


Quanto menores as diferenças, tanto maiores são as chances de adaptações e progressos em nossos convívios. Algumas vezes, a diferença das práticas dos cultos religiosos é superada quando um resolve se converter à fé do outro; outros preferem aprender a aceitar a diferença permanecendo cada um na sua fé. Todavia, imaginemos o futuro dos filhos que hão de vir dessa união. Em qual religião essa criança será catequizada? Pois de certa maneira, tanto o namorado quanto a namorada acreditam que sua opção de fé seja a melhor para educar a criança.


Se acreditamos que a nossa felicidade depende de nossas escolhas, então procuremos fazê-las com bastante cuidado e zelo para que maiores sejam as oportunidades de alegria dentro de nossos relacionamentos.

Fonte: cancaonova.com